Depois de duas semanas de negociações lá vou eu para outra novela das oito. Minha quinta. Justamente quando pensava que meu ano estava programado para teatro, família, Colorado e pescaria.
Irrecusável.
Até hoje sempre interpretei na televisão personagens mais caricatos. Engraçados. O fato de ser gordo me levou quase sempre a presunção de que minha especialidade era o humor, a comédia, a caricatura. Não sei dizer se isso me incomodava ou não. Juro que não sei. A verdade é que o brocha, o cara que peida, o milionário da mega-cena corno, o dono de pizzaria glutão ou o coronel Mineiro sempre me satisfizeram no sentido de que pude, alegremente, exercer na plenitude minha atividade de ator (que é aquele que defende incontinenti os defeitos de seus personagens, sem vergonha, sem pudor e com entrega total). A grande exceção, talvez, tenha sido o Chico Mascate, que era um comerciante rudimentar que andarilhava pelos pampas entre Farrapos e Imperiais na Minissérie A Casa das Sete Mulheres.
Já fui dirigido por grandes diretores na TV Globo: Ricardo Wadinghton, Luiz Fernando Carvalho, Jayme Monjardim, Marcos Shechtman, Jorge Fernando, Marcos Paulo, entre outros. Já fiz trabalhos escritos pelos melhores: Manoel Carlos, Benedito Ruy Barbosa, Walcyr Carrasco, Walter Negrão, Maria Adelaide Amaral, entre outros. Mas faltavam dois: Denis Carvalho e Gilberto Braga. Não falta mais.
Insensato Coração estréia no dia 17 de janeiro de 2011, no horário nobre da teledramaturgia do Brasil. Na TV Globo. Papel seríssimo. Werner é o nome do personagem. Dono de uma companhia aérea e antagonista de Raul (Antônio Fagundes), com quem manterá um contencioso pessoal e judicial e que vai dar muito pano prá manga.
Vou me preparar como nunca para enfrentar meu primeiro personagem não caricato na televisão. Assim como tive o retorno carinhoso do público brasileiro para os personagens engraçados, estarei apto para receber o ódio do povo brasileiro. Entrarei o ano novo encarnando um cara muito malvado. Insensível. Dinheirista. Um pouco desonesto. E, que para alívio do público, terá o merecido fim.
De minha parte só posso dizer uma coisa: estarei preparado. Vou me dedicar ao extremo para exercer minha atividade que nada mais é do que fazer com que o público acredite que Werner Lindenberg existe de verdade. Espero que o odeiem. Será meu maior prêmio.