sexta-feira, 14 de maio de 2010

O Leite nasce nas gôndolas do Supermercado...será?

Sábado fomos trabalhar em Carlos Barbosa, Serra Gaúcha. Fui com meu carro. Apresentação marcada para às oito e meia. Oscar Simch ao meu lado. Banco traseiro com dois jovens atores: Gustavo Razera com uns vinte e poucos e William Martins com dezoito ou dezenove. Os meninos vinham entusiasmados com o início da carreira. Resolvemos eu e o Oscar tentar explicar o que foi a barra dos anos setenta e como ser ator naquela época demandava doses cavalares de paciência e esperança. Tava difícil d'eles entenderem. Falamos sobre o Luiz Artur, a Irene, o Ludoval, o Dilmar, o Néstor, a Mirna, o Guto Pereira, a Suzana Saldanha, o Perin, a Maria Helena Lopez. Falamos da passagem avassaladora do "Asdrúbal Trouxe o Trombone" por Porto Alegre, que chegou para ficar uma semana e três mêses depois ainda andava por aqui. Foram embora logo em seguida, mas levaram o Pedrinho Santos na bagagem. Lembramos com carinho do Betho Mônaco, do Werner, do Palese, da Chala, do Breda, do Angel, das Serpa, do Foguinho. Tentamos explicar, sem sucesso, o que moveu Julio Conte e Flávio Bicca a reunirem um bando de meninos e conceberem o classico Bailei na Curva: Ah, a Márcia do Canto: quantos encantos.
A estrada passando e nós tentando dizer para os meninos que não, o leite não nasce no supermercado. Antes de ele ir parar naquela caixinha, muita vaca se fudeu e ficou com as tetas murchas. Eles nos olhavam incrédulos como que a indagar: mas a Casa de Cinema não nasceu grande? até tentamos falar do Giba, do Nadotti e do Deu prá ti Anos Setenta. Nelson Coelho de Castro, Nei Lisboa, Amôndegas, Saracura, Vivendo a Vida de Lee, o Meme, a Cláudia, o Antônio Carlos Falcão. O Careca e a Pilly, o Lui, a Flávia Moraes, o Amon e o Henkin ... e a repressão comendo solta...deixa prá lá.
É difícil. Parece saudosismo. Fica chato. Éramos apenas dois tios veteranos, com casa e carro próprios. Dois tios tentando dizer como foi bom e como faríamos tudo novamente se essa possibilidade nos fosse dada.
O que nós queríamos mesmo dizer é que nos anos setenta já estávamos inexoravelmente inoculados pelo bichinho do ram-ram.
Ilustro com dois momentos de uma mesma música. Assista o video de 1969 e compare com o de 2009. Mesmo cara. Mesma banda. Veja como os tios podem se aprimorar sem mudar absolutatamente nada.
Leite gostoso. Pasteurizado. Primeiro o da Vaca. Depois o do Supermercado.
Boa Viagem!

3 comentários:

Gustavo Razzera disse...

Importante que se tornasse pública toda essa história. Onde é que isso foi contado? Tá escrito? Não é que se pense que Casa de Cinema tenha nascido grande, nem que o teatro por aqui tenha sido sempre como hoje, ocorre que não se sabe direito como foi, o que é aconteceu, daí é que vem a cara de incredulidade, por que quando alguém conta, é por vezes tão diferente do esperado que é até de se estranhar. Eu já ouvi várias histórias desse período de formação da cena cultural atual e da boca de várias pessoas, mas nunca ninguém havia me contado dessa passagem do Asdrúbal Trouxe o Trombone por Porto Alegre, por exemplo, e da influência que tiveram. Para quem não esteve lá, continua sendo um período nebuloso, porque fica sempre a sensação de que falta alguma coisa, também por ser um período maior e mais longo do que uma curta viagem de carro consegue percorrer. Então? Alguém já juntou as peças dessa história?

terenceveras disse...

É, tem coisas que nós jovens não sabemos de onde vieram! Tá certo que é ingenuidade achar que sempre teve lá na prateleira do Zaffari, brilhando... mas não tem nada escrito sobre todas essas estórias que tu pincelasse. Começa a botar cá no blog isso. Ia dar audiência!

Unknown disse...

Boa Zé!
Sem entrar no mérito do tema principal, mas você acha que se os Beatles ainda existissem, na sua formação original, também não enveredariam pelo mesmo caminho do Jethro Tull? A exemplo de tantas outras bandas tidas como "marginais" mas que entraram no esquema das gravadoras para não desaparecer...
Ciclicamente isso acontece, e por aqui você vê Skank cantando músicas de Roberto Carlos, Jorge Ben "lançando" sucessos de 30 anos atrás, e a galera digere tudo com muita facilidade, pois vem tudo mastigadinho. Ou, como você disse, "pasteurizado"...
Abraço,
Nilo, de Caxias do Sul