quarta-feira, 12 de maio de 2010

Hilário Honório e o crítico da Veja
Acabo de receber do Antônio Abujamra uma carta, isso mesmo, carta. Quem em maio de 2010 manda uma carta pelo correio? O Abu e a Belinha (sua esposa, fiel escudeira e irmã da minha mãe) mandam.
A carta diz, lá pelas tantas, mais ou menos o seguinte: "...querido sobrinho, mandamos a crítica que saiu na Veja do filme em que atuas, Casa Verde. A crítica não é nada boa, mas como nos acostumamos a gostar do que a Veja não gosta, iremos ao cinema. O Tio Abu viu o trailler e achou hilariante..."
Desdobrei o papel de revista, já preparado para o escracho. Fiz a leitura em voz alta para meus filhos que almoçavam comigo. Ao terminar todos tivemos a mesma reação: um longo e incontrolável acesso de riso.
Não era uma crítica (já estou rindo enquanto escrevo), mas sim a destruição completa de tudo e todos.
Vou reproduzir agora na íntegra e farei alguns comentários depois.
Diz a Veja: "Imagine um filme muito ruim da Xuxa e ainda por cima sem a Xuxa. Ou uma produção bem tosca dos Trapalhões sem a presença do Renato Aragão. O resultado é esta aventura infantilóide comandada sem timing pelo diretor gaúcho Paulo Nascimento. Repleta de mensagens ecochatas e embalada por um visual metido a moderninho de gibi, a trama flagra os momentos de criação de um desenhista "Nicola Siri". Enquanto ele rabisca sua nova história, desenrola-se na tela o enredo dela: um cientista "Lui Strassburger" que criou uma máquina de reciclagem de lixo. O objeto, porém, será capaz de acabar com o negócio de um empresário-vilão "Zé Victor Castiel". Este, ao lado de sua assistente "Ingra Liberato", fará de tudo para exterminar os planos de sustentabilidade para o meio ambiente. Se para as crianças, o roteiro pode parecer tatibitati demais, aos adultos configura-se num tormento inimaginável. Felizmente, o martírio dura pouco mais de uma hora."
Terminei a leitura e fiquei pensando o que mesmo nos provocou a gargalhada, já que eu acabara de ler uma opinião externada por um jornalista (a crítica não é assinada) de uma conceituada Revista de circulação nacional e que é lida por centenas de milhares de pessoas em todo o Brasil e que sobretudo destrói sem deixar pedra sobre pedra uma obra de arte?
Concluí que a crítica causou em mim, como causou na Tia Bela e no Tio Abu, aquilo que há anos denominei de "efeito hilário honório".
Explico: para quem não conheceu, Hilário Honório foi o pseudônimo de um jornalista que escrevia sobre política nos jornais da Caldas Júnior (Correio do Povo, Folha da Manhã e Folha da Tarde) em Porto Alegre entre as décadas de setenta e oitenta. Era um virulento e furioso defensor da revolução de 64. Com o tempo o cara foi ficando muito cáustico. Cáustico demais. Agredia tudo e todos com palavras raivosas (sempre a serviço da ditadura). Detonou tanto, a tudo e a todos, que as pessoas já liam sua coluna para rir um pouco. Foi tão fundo na porrada que as pessoas atingidas já achavam engraçadas as maledicências. Enfim, como se diz na gíria futebolística, virou o fio.
Não quero e não vou discutir os méritos e erros de uma produção cinematográfica feita com muitos esmero e carinho (todos sabem como é difícil fazer um longa metragem no Brasil). Não quero e não vou considerar idiotas os membros do juri do Festival de Cinema da Bahia que premiou o filme, alem de considerar a mim e a ingra os melhores atores daquela competição.
Só quero dizer uma coisa: a Veja, na sua ânsia por agredir e destruir tudo e todos, está conseguindo fazer com que seus leitores (entre os quais não me incluo a duas décadas) duvidem de sua credibilidade, porquanto não existe uma obra de arte da qual, ao fim e ao cabo, não reste nenhum mérito.

3 comentários:

Radiokaos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Radiokaos disse...

Não queime seus neurônios com a Veja, meu querido.
Publicaçãozinha que não serve nem para embrulhar o cocô do meu vira-latas, que, à propósito, tem menos pulgas que aquela redação.

Abraço!

Anônimo disse...

Eu sou estudante de jornalismo e fui ver o filme com a minha mãe, aqui em Porto Alegre mesmo. E nós adoramos. Eu, inclusive, fiz uma resenha sobre ele. Acredito que as crianças de hoje em dia não se interessem por esse tipo de obra, principalmente se for nacional. Eu achei muito bom o filme, e me diverti com ele. É por causa de pessoas como algumas que escrevem para a Veja que o mundo está desse jeito. Eles não pensam em nada na hora de publicar qualquer coisa...