sábado, 4 de setembro de 2010

O Peninha e o Led

Fazia tempo que não ouvia o Eduardo Bueno. Fazia tempo que não ouvia aquela voz meio rouca que emite um sotaque portoalegrense genuíno como uma metralhadora giratória. Fazia tempo que não me lembrava de como o Peninha é brilhante.
Agora são quase quatro da matina e estou, fiel que sou, grudado no meu radinho de pilha portátil (daqueles que a gente leva pro jogo) ouvindo uma reprise do programa do Professor Ostermann. O professor tenta perguntar e o Peninha não responde o que ele pergunta, mas, em compensação, fala de tudo com mestria.
Na primeira vez que conversei com o Peninha, éramos adolescentes. Ele era namorado de uma grande amiga minha, a Betina Gertum Becker. Na época andava com uma máquina fotográfica à tira-colo e já chamava atenção porque falava pelos cotovelos. Ao contrário, porém, dos que falam pelo cotovelo, o cara não era nem um pouco chato. Meus colegas mauricinhos do Farroupilha não davam muita bola, mas não eu. Ficava ouvindo e ouvindo e pensando: "como é que esse louco fala tanta coisa interessante?" E é isso que ele é prá mim até hoje, um adorável inteligente, interessante e agradável maluco.
Conheço algumas histórias inacreditáveis do Eduardo Bueno. Algumas contadas pelo Jorge Furtado. Tem uma delas que considero a que mais retrata a genialidade do Peninha. Eu achava que poderia ser fantasiosa até ler uma biografia do João Havelange e constatar que ali estava a história exatamente como me contaram.
Nas vésperas da Copa do Mundo de 1982 na Espanha, na entrevista coletiva do Presidente da FIFA, estavam numa sala todos os grandes jornalistas esportivos do mundo. Todos iam ao microfone, se apresentavam e faziam sua pergunta. Lá pelas tantas se ouve: "Eduardo Bueno, Brasil." Era ele. Olhou fixo nos olhos do já sexagenário Presidente Havelange e disparou, com aquele sotaque gaúcho urbano carregado: "Havelange, o que tua acha do Led Zeppelin?" Gremista MUITO DOENTE, ele dispara todos os tipos de impropérios para qualquer coloradinho que cruzar seu caminho. Quando lançou seu livro "Grêmio, nada pode ser maior" eu não tive dúvidas: fui até a loja onde estava sendo lançado o livro e enfrentei uma fila enorme para pegar o autógrafo. A gremistada na fila toda me olhando torto e eu nem aí. Sou admirador do autor e me senti compelido a ir buscar o livro e o autógrafo. Na minha vez, ele desferiu algumas ofensas, fez uma dedicatória desaforada, me deu um abraço e mandou eu ir embora rápido que ali não era lugar para colorados. O livro eu li e nunca me lembro de dar de presente ao Julio Conte.
Ano passado fui até o seu apartamento para conversar sobre um projeto que queria fazer com ele e que nem me lembro mais o que era. Ele abriu a porta e gritou: "entra colorado filho da puta". Eu entrei, conversei uma meia hora com o Peninha. Me abasteci daquela inquietude genial e ganhei a rua .
Na verdade eu nunca soube qual foi a resposta do Havelange.
De minha parte eu posso dizer: Adoro o Led Zeppelin...e o Peninha.

Nenhum comentário: